domingo, 16 de outubro de 2011

RODOANEL ISOLA MORADORES DE MAUÁ



Moradores utilizam caminho marginal ao córrego para acessar o Centro. 
Foto: Amanda Perobelli

Cenário da Vila Santa Cecília mistura ruas esburacadas, mato alto e pneus abandonados em canteiro de obras.

O cenário na Vila Santa Cecília, em Mauá, é de abandono. Ruas esburacadas, empoeiradas e interrompidas para passagem de veículos e pedestres. Casas vazias, calçadas e pontos de ônibus destruídos. O mato alto, os pneus largados nos canteiros de obra e a falta de iluminação finalizam o quadro deixado pela Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.) no bairro ao realizar as obras de interligação da cidade com o trecho Sul do Rodoanel e das avenidas Papa João 23 e Jacu-Pêssego.

Isolada após as intervenções do Estado, a população passou a usar a encosta do córrego do bairro como via de acesso ao Centro da cidade. O problema é que o espaço não é uma via de verdade e oferece perigos e insegurança aos moradores. “Não temos iluminação, o mato está sempre alto e os pedestres dividem o espaço com os veículos, já que não temos calçada”, desabafou a auxiliar administrativa Amanda Colleto, 33 anos.

Desde que as obras do trecho Sul do Rodoanel e da Jacu-Pêssego foram iniciadas na Vila Santa Cecília, em 2008, os riscos de assaltos, estupros e violência aumentaram. O problema é tão grave que fez a direção da Escola Estadual Professora Sada Umeizawa desistir das aulas noturnas pela falta de segurança dos funcionários e alunos. “A escuridão é grande e o mato alto ajuda os criminosos a se esconderem”, revelou a dona de casa Edjane Campos, 39 anos.

A peregrinação até o Centro da cidade não para por aí. Após enfrentar o perigo da violência ou o risco de serem atropelados na encosta do córrego, os moradores encaram a difícil missão de atravessar as avenidas Ayrton Senna da Silva e Santa Catarina sem o auxílio de faixas ou semáforos de pedestres. “Crianças, idosos e adultos correm entre os carros para atravessar as vias. É um perigo”, alertou Edjane.

Aqueles que preferem não se arriscar entre os veículos, têm a opção de aguardar o transporte coletivo. Porém, sem calçada ou cobertura, o ponto de ônibus do bairro fica em uma curva na junção das avenidas Ayrton Senna da Silva e Santa Catarina, no meio das vias, e não oferece segurança aos usuários. “Uma pessoa já foi atropelada aqui. A situação é preocupante”, lamentou Amanda.

Intervenções da Dersa criaram bairro-fantasma

Os moradores garantem que tais problemas não existiam antes das intervenções da Dersa no bairro. “Agora parecemos um bairro-fantasma, onde tudo foi destruído e nada funciona”, avaliou Edjane. Para os munícipes, o problema está no fato de que a maior parte dos moradores foi retirada do bairro. No início, a Dersa falava em remoção total, porém, com um novo projeto, o trajeto foi modificado para longe da Vila Santa Cecília, o que impossibilitou a desapropriação total do bairro. “Fomos esquecidos aqui”, afirmou a dona de casa.

Em nota, a Dersa afirmou que investirá R$ 4,47 milhões na recuperação das ruas Santa Rita, Santa Rosa, Santa Ana, Santa Anastácia e Luiz Varin, além das avenidas Santa Lúcia, Guido Bozzatto, Santa Virginia e Santa Terezinha. A licitação para os trabalhos estão em andamento e a previsão é que na primeira quinzena de novembro sejam entregues as propostas das empresas interessadas.

A empresa ainda esclareceu que o projeto de implantação de obras prevê que o bairro ficará com as saídas já existentes, ou seja, usando a encosta do córrego como rua. Porém, a Dersa esclareceu que pintará faixas de pedestres para garantir a segurança dos moradores. Já sobre o ponto de ônibus, a empresa não tem previsão.

Mauá explicou que a Dersa removeu a iluminação do bairro e, portanto, é responsável pela reposição. A administração já fez a solicitação. Sobre as vias, a Prefeitura confirmou que a Dersa fará a pavimentação, o que inclui a avenida Santa Catarina, que ganhará  nova calçada e ponto de ônibus. A informação não foi confirmada pela Dersa. Em relação ao mato alto, a Prefeitura informou que o bairro está na programação municipal de capinação para outubro.

Poeira das obras causa doenças em crianças

De acordo com os moradores, rinites, bronquites e tosses alérgicas são comuns na Vila Santa Cecília, atacando principalmente as crianças, devido à poeira que cobre o bairro com o vai e vem de caminhões da Dersa que trabalham na interligação da Papa João 23 e Jacu-Pêssego.

Com bronquite alérgica, o filho de cinco anos de Edjane é uma das vítimas. “Uma vez ele me disse que a tosse dele não gostava da nossa casa, porque quando ele estava na escola, não tossia”, comentou.
Além da poluição, os moradores estão preocupados com os mais de 50 pneus jogados em tubos de drenagens usados na implantação de bueiros pela Dersa, em baixo do viaduto da Jacu-Pêssego. “Esses pneus servirão para a proliferação de dengue”, disse Edjane.

Em nota, a Prefeitura de Mauá explicou que realizará uma ação para o recolhimento de pneus descartados irregularmente na cidade, inclusive na Vila Santa Cecília. 

Problemas marcam obra no trecho Sul

Assim como a Vila Santa Cecília, em Mauá, o problema do isolamento causado pelas obras do trecho Sul do Rodoanel é compartilhado pelo vizinho Jardim Oratório e pelo Parque Imigrantes, em São Bernardo.  Atrasos nas obras de compensações ambientais complementam a lista de problemas das cidades do ABCD por onde passa a via. Após um ano de inauguração, ruas esburacadas aguardam pavimentação na Região.

A obra, realizada a toque de caixa, não se preocupou em isolar bairros inteiros ou cometer crimes ambientais. As construções foram aceleradas, os atrasos foram contornados e o trecho Sul do Rodoanel foi entregue antes de José Serra (PSDB) sair do governo do Estado para ser candidato à Presidência da República.

No caso do Parque Imigrantes, em São Bernardo, as intervenções da Dersa bloquearam o acesso ao km 26 da Imigrantes pela estrada Galvão Bueno, distanciando o bairro dos vizinhos Los Angeles, Royal Parque, Nova Canaã e Vila Uiriçaba. O local sem infraestrutura básica ficou mais longe dos centros comerciais. O caminho que antes era de dois quilômetros até o Jardim Represa, agora é de 12.
Além do desmatamento, a região sofreu com assoreamento da Billings, minas e olhos d’água. Das 633.038 mudas previstas na compensação ambiental para São Bernardo pelo convênio assinado entre Dersa e Prefeitura, apenas 44 mil estão sendo plantadas na cidade.

Verdão goleia Corinthians em obras pelo trânsito


O placar ficou desigual. De um lado, o Palmeiras, que, para construir o seu novo estádio, na zona oeste, precisou bancar uma série de exigências da Prefeitura a fim de minimizar o impacto do empreendimento no trânsito da região. Do outro, está o Corinthians, clube do qual a gestão Gilberto Kassab (PSD) não cobrou nenhuma melhoria viária no entorno da sua futura arena, na zona leste, que poderá receber a abertura da Copa do Mundo de 2014.

Embora as duas construções tenham uma capacidade semelhante – ambas serão dimensionadas para pouco mais de 45 mil torcedores –, só o clube alviverde precisará fazer intervenções nas vias perto do seu estádio, em Perdizes.



Alargamento da Avenida Francisco Matarazzo, adequações em três cruzamentos e instalação de grades e semáforos estão entre as obrigações impostas ao Palmeiras no ano passado. As ações devem ser projetadas e implantadas pelo clube – que não informou seus custos –, seguindo padrões de órgãos como a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).

Elas estão contidas na certidão de diretrizes da obra. Esse documento, emitido pela Secretaria Municipal de Transportes e necessário para obter o alvará de aprovação, estabelece medidas que devem ser tomadas pelos construtores para reduzir o impacto no trânsito provocado por estabelecimentos que atraem muitos veículos, como shoppings, prédios de escritórios e estádios. Para a arena corintiana, apesar de o número de vagas de carros ser mais do que o dobro da palmeirense, não se exigiu qualquer intervenção. Fixou-se só o porte do estacionamento.

Segundo o texto assinado pelo secretário dos Transportes, Marcelo Cardinale Branco, as obras viárias necessárias para o empreendimento já “estão contidas no Plano de Desenvolvimento da Zona Leste”, convênio assinado entre o governo do Estado e a Prefeitura, em abril. O projeto prevê cinco intervenções – orçadas em R$ 478,2 milhões e pagas com recursos públicos – para melhorar o acesso às imediações do estádio, entre elas, a construção de uma via para ligar a Avenida Itaquera e a Radial Leste.

Quem passa diariamente pelas redondezas do Itaquerão reclama dos gargalos no trânsito, e teme que possam piorar com o estádio. Um deles é o entroncamento das avenidas Miguel Inácio Curi e Itaquera. Estreitas, as vias comportam mal o volume de veículos nos picos. O frentista Esequiel Batista, de 30 anos, diz que, além disso, o trânsito é agravado por falta de opções. “Aqui não há ruas paralelas que possam servir de alternativa.”

Ele defende que as alterações sejam parcialmente custeadas pelo Corinthians, ao contrário do motorista Rodrigo da Silva Conceição, de 30 anos, que prega o alargamento das avenidas da área. Ele acha que as obras são de responsabilidade do poder público.

Para o especialista em transportes Jaime Waisman, não se pode dar tratamentos diferentes para casos parecidos. “A lei tem que ser igual para todos.”A Prefeitura alegou em nota que os dois estádios ficarão em pontos com diferentes características de urbanização.

Regiões são diferentes, diz Prefeitura

Em nota, a Prefeitura informou que os dois estádios estão sendo erguidos em regiões com características de urbanização distintas. Segundo o texto, a Arena Palestra estará em uma área onde “há um desenvolvimento mais consolidado, com grande oferta de transporte público e infraestrutura”.

Também ali, “a densidade populacional e o uso do solo” são muito maiores do que em Itaquera. A Prefeitura diz que a região “está em pleno desenvolvimento e, por isso, conta com uma série de iniciativas do poder público para acelerar esse processo”. Além do Plano de Desenvolvimento da Zona Leste, a região tem obras “em desenvolvimento”, como a extensão da Radial.

O Corinthians também diz que a diferença entre as exigências se devem “sobretudo ao entorno de cada” estádio. O diretor de marketing do clube, Luis Paulo Rosenberg, disse que o estádio se situa em uma área com malha de transporte adequada “ao uso exclusivamente futebolístico” do local. “Ao contrário de times menores que precisam de receitas de show para viabilizar seus estádios, o nosso se pagará com a renda dos nossos jogos.” O Palmeiras não se manifestou.