Trecho Norte vai passar muito perto da Serra da Cantareira.
Conselho estadual aprovou licença prévia na semana passada.
O Rodoanel é uma obra importante para São Paulo e para toda a região metropolitana, mas o Trecho Norte é uma parte polêmica do projeto. Primeiro, porque é uma estrada que vai passar muito perto de uma das maiores reservas florestais da Grande São Paulo, a Serra da Cantareira, onde brota mais da metade da água consumida na capital paulista.
Na semana passada, o Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) aprovou, por 27 votos a favor, sete contra e uma abstenção, a concessão da licença ambiental prévia (LAP) para o Trecho Norte do Rodoanel Mário Covas. A aprovação divide também os moradores. Centenas de famílias que vivem há anos em bairros próximos à serra - em terrenos invadidos ou regularizados - vão precisar escolher outro lugar para morar.
Moradores do Jardim Paraná (foto) não sabem o que irá acontecer com eles
O Trecho Norte vai passar no Jardim Paraná, na Brasilândia. De um lado, é possível ver o pé da Serra da Cantareira. Do outro, estão as casas que serão desapropriadas para a construção do Rodoanel. Os moradores não sabem quando e nem como isso vai acontecer. A dona de casa Sandra Araújo mora no bairro há quinze anos. Foi onde ela cresceu, se casou e teve filhos. "Um fala que vai vir aqui e tirar a gente. Uns falam que vai dar casa com escritura, e a gente está meio perdida, porque não sabe o que fazer. A gente queria uma solução”, diz.
Desempregada, com dois netos, Sônia Maria Franco também está assustada. "Eu estou me sentindo mais que um lixo porque nós só ficamos sabendo sobre esse Rodoanel quando o pessoal da USP mandou para cá uma notícia que aqui ia ser o caminho do Rodoanel”, afirma.
A arquiteta Cecília Machado faz parte do grupo da Universidade de São Paulo (USP) que há oito anos estuda os impactos sociais de obras públicas, como o Rodoanel, na Serra da Cantareira. "Esse projeto, ele está sendo imposto. Ele não foi discutido com a população. No mínimo, é começar esse processo que aqui no Jardim Paraná iniciou com a universidade, mas é o papel da Dersa estar vindo aqui discutir com a população quais as melhores alternativas, quais eram as melhores alternativas de traçado, quais as possibilidades de remoção e reassentamento, e discutir isso com a população”, defende.
Maria Cristina Greco faz parte da Comissão de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Ela também acredita que outros traçados deveriam ter sido considerados. "Isso vai afetar São Paulo toda, porque vai criar ilhas de calor, poluição atmosférica e poluição sonora. Outro traçado não teria tanto impacto se fosse por túneis ou se fosse além da Serra da Cantareira. Seria menos problemático”, disse.
A obra deve durar três anos e custar mais de R$ 6 bilhões. O Trecho Norte do Rodoanel terá 44 km de extensão. O projeto de construção indica duas saídas para a Marginal Tietê. Em uma delas, será preciso construir uma alça de acesso que vai passar por dentro de um condomínio no final da Avenida Inajar de Souza, bem perto da Serra da Cantareira.
"Nós conversamos com a Dersa. Eles têm uma perspectiva de que, se a obra tivesse o acesso da Inajar, o loteamento dessa parte para lá provavelmente seria desapropriado", explica Ricardo Pimentel Mendes, diretor da empresa que loteou o condomínio. A outra saída do Rodoanel seria pela Avenida Raimundo Pereira de Magalhães. Esse é outro ponto polêmico do projeto, porque a avenida já é muito movimentada.
Para o motorista Josemir Cardoso da Silva, que faz entregas, o Rodoanel será bem-vindo. Ele enfrenta o trânsito pesado da Zona Norte todo dia e não vê a hora do novo trecho ficar pronto. "Ia facilitar porque eu podia pegar ele indo para a Fernão Dias, e já caia ali no Parque Novo Mundo e Dutra. É rapidinho para chegar em Guarulhos”, explica.
As duas saídas do Rodoanel para avenidas da zona norte - a Inajar de Souza e a Raimundo Pereira de Magalhães - constam da licença prévia, aprovada na semana passada. O presidente da Dersa, Laurence Casagrande, comentou como fica a situação das famílias que moram nos locais por onde o Rodoanel vai passar. "A desapropriação é apenas para quem tem um imóvel regular. Ela prevê atingirmos 2,1 mil imóveis, entre residenciais, rurais, industriais e comerciais. As famílias que não tem imóvel regular serão atendidas pelo nosso programa de reassentamento”, afirmou.
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G1.com