O placar ficou desigual. De um lado, o Palmeiras, que, para
construir o seu novo estádio, na zona oeste, precisou bancar uma série de
exigências da Prefeitura a fim de minimizar o impacto do empreendimento no trânsito
da região. Do outro, está o Corinthians, clube do qual a gestão Gilberto Kassab
(PSD) não cobrou nenhuma melhoria viária no entorno da sua futura arena, na
zona leste, que poderá receber a abertura da Copa do Mundo de 2014.
Embora as duas construções tenham uma capacidade semelhante
– ambas serão dimensionadas para pouco mais de 45 mil torcedores –, só o clube
alviverde precisará fazer intervenções nas vias perto do seu estádio, em
Perdizes.
Alargamento da Avenida Francisco Matarazzo, adequações em três
cruzamentos e instalação de grades e semáforos estão entre as obrigações
impostas ao Palmeiras no ano passado. As ações devem ser projetadas e
implantadas pelo clube – que não informou seus custos –, seguindo padrões de
órgãos como a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).
Elas estão contidas na certidão de diretrizes da obra. Esse
documento, emitido pela Secretaria Municipal de Transportes e necessário para
obter o alvará de aprovação, estabelece medidas que devem ser tomadas pelos
construtores para reduzir o impacto no trânsito provocado por estabelecimentos
que atraem muitos veículos, como shoppings, prédios de escritórios e estádios.
Para a arena corintiana, apesar de o número de vagas de carros ser mais do que
o dobro da palmeirense, não se exigiu qualquer intervenção. Fixou-se só o porte
do estacionamento.
Segundo o texto assinado pelo secretário dos Transportes,
Marcelo Cardinale Branco, as obras viárias necessárias para o empreendimento já
“estão contidas no Plano de Desenvolvimento da Zona Leste”, convênio assinado
entre o governo do Estado e a Prefeitura, em abril. O projeto prevê cinco
intervenções – orçadas em R$ 478,2 milhões e pagas com recursos públicos – para
melhorar o acesso às imediações do estádio, entre elas, a construção de uma via
para ligar a Avenida Itaquera e a Radial Leste.
Quem passa diariamente pelas redondezas do Itaquerão reclama
dos gargalos no trânsito, e teme que possam piorar com o estádio. Um deles é o
entroncamento das avenidas Miguel Inácio Curi e Itaquera. Estreitas, as vias
comportam mal o volume de veículos nos picos. O frentista Esequiel Batista, de
30 anos, diz que, além disso, o trânsito é agravado por falta de opções. “Aqui
não há ruas paralelas que possam servir de alternativa.”
Ele defende que as alterações sejam parcialmente custeadas
pelo Corinthians, ao contrário do motorista Rodrigo da Silva Conceição, de 30
anos, que prega o alargamento das avenidas da área. Ele acha que as obras são
de responsabilidade do poder público.
Para o especialista em transportes Jaime Waisman, não se
pode dar tratamentos diferentes para casos parecidos. “A lei tem que ser igual
para todos.”A Prefeitura alegou em nota que os dois estádios ficarão em pontos
com diferentes características de urbanização.
Regiões são
diferentes, diz Prefeitura
Em nota, a Prefeitura informou que os dois estádios
estão sendo erguidos em regiões com características de urbanização distintas.
Segundo o texto, a Arena Palestra estará em uma área onde “há um
desenvolvimento mais consolidado, com grande oferta de transporte público e
infraestrutura”.
Também ali, “a densidade populacional e o uso do solo” são
muito maiores do que em Itaquera. A Prefeitura diz que a região “está em pleno
desenvolvimento e, por isso, conta com uma série de iniciativas do poder
público para acelerar esse processo”. Além do Plano de Desenvolvimento da Zona
Leste, a região tem obras “em desenvolvimento”, como a extensão da Radial.
O Corinthians também diz que a diferença entre as exigências
se devem “sobretudo ao entorno de cada” estádio. O diretor de marketing do
clube, Luis Paulo Rosenberg, disse que o estádio se situa em uma área com malha
de transporte adequada “ao uso exclusivamente futebolístico” do local. “Ao
contrário de times menores que precisam de receitas de show para viabilizar
seus estádios, o nosso se pagará com a renda dos nossos jogos.” O Palmeiras não
se manifestou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário