sexta-feira, 1 de julho de 2011

Rodoanel Trecho Norte em uma palavra: indignação

Francisco Chagas

Desde o ano passado participamos das discussões sobre esse traçado e os impactos decorrentes dessa obra. Realizamos audiências públicas na Câmara Municipal, na Assembleia Legislativa e nos bairros, com a participação da população da região Noroeste, de lideranças, deputados, vereadores e representantes do Dersa e do DNIT. Foram grandes encontros, todos documentados em listas de presença, filmagens, fotografias e gravações.

Fomos até o Ministério dos Transportes, em Brasília, onde nos reunimos com o Ministro Alfredo Nascimento e com representantes do DNIT para discutir questões sobre a obra do Rodoanel e firmar opiniões sobre a necessidade do respeito às reivindicações dos moradores e das entidades ambientalistas. Em seguida, compusemos um Fórum e estivemos no DNIT em São Paulo, que promoveu a abertura de diálogo com o Dersa, empresa responsável pela execução da obra.

Participamos, também, de audiência com o Prefeito Gilberto Kassab onde discutimos a importância do envolvimento da Prefeitura de São Paulo na defesa de áreas de Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) e Zona de Proteção Ambiental (ZEPAM), presentes na região do traçado.

Estivemos, ainda, reunidos com a Defensoria Pública do Estado de São Paulo para exigir a defesa do direito à moradia para as mais de dez mil famílias que estão sendo ameaçadas de despejo.

Nosso objetivo é, através do diálogo, ter garantias de redução dos impactos decorrentes dessa obra, com um plano de reassentamento urbano; a readequação do sistema viário na região noroeste da capital, que garanta o fluxo urbano hoje completamente prejudicado pelos congestionamentos; e a preservação da Serra da Cantareira, área declarada pela UNESCO como parte integrante da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo.

Lamentamos que o EIA-Rima apresentado pelo Dersa e aprovado pelo Consema não tenha levado em consideração nenhuma dessas demandas, debatidas e compromissadas pelos próprios representantes dessa empresa estatal.

Não entendemos como a reunião do Consema, agendada no dia 22, um dia antes do feriado prolongado de Corpus Christi, possibilitou que os conselheiros, em tempo exíguo, pudessem estudar e analisar um projeto tão complexo e que causará tantos impactos à população e ao meio ambiente, sem nenhuma garantia de compensação ambiental, viária e social.

Assim, como um trator, o Consema atropelou a legislação municipal e a participação popular, aprovando o EIA-Rima.

É o modo tucano de governar. Um PSDB que não respeita a população, não respeita a legislação. É um absurdo o governo Alckmin encaminhar o processo, assumindo compromissos com a população e com as autoridades públicas, e submeter à votação do Conselho de Meio Ambiente outra proposta. Trata-se de uma farsa. Fica aqui o nosso protesto e a nossa indignação.

Francisco Chagas é cientista social, vereador e diretor do Sindicato dos Químicos de São Paulo.

CONSEMA aprova licenciamento ambiental prévio do trecho norte do Rodoanel



O Conselho Estadual do Meio Ambiente de São Paulo aprovou licenciamento ambiental prévio do trecho norte do Rodoanel. A obra está orçada em 5,8 bilhões de reais e prevê a construção de uma rodovia de 44KM de extensão.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

ESTE BLOG ESTA DE LUTO


Pelo assassinato da Serra da Cantareira, pela expulsão de, no mínimo, 4.000 mil famílias do entorno do Rodoanel e pela destruição total da EMEF Coronel Hélio Franco Chaves, no Jardim Corisco.


quarta-feira, 29 de junho de 2011

Cobertura do Estado de S Paulo do dia 29/06 sobre a reunião fatidica do CONSEMA



Cobertura do Estado de S Paulo do dia 29/06 sobre a reunião fatidica do CONSEMA

Cobertura do Estado de S Paulo do dia 29/06 sobre a reunião fatidica do CONSEMA

Cobertura da Folha de S.Paulo do dia 29/06 sobre a reunião fatídica do CONSEMA

Prefeitura veta, mas Rodoanel vai ter atalho para marginal

Mesmo contrariando parecer do município e sob oposição de ambientalistas, Estado obtém licença do trecho norte

Obra de R$ 6,1 bi, que margeará a Cantareira, prevê desmatamento e a retirada de 2.000 famílias, entre outros

Sob protesto de ambientalistas e contrariando o veto da Prefeitura de São Paulo a um atalho para a marginal Tietê, o Conselho Estadual do Meio Ambiente concedeu ontem licença prévia para o trecho norte do Rodoanel, a maior obra viária do governo Geraldo Alckmin (PSDB).

Foram 23 votos favoráveis à obra, mas todos os sete representantes de ONGs ambientalistas votaram contra.

A rodovia terá 44 km, custará R$ 6,1 bilhões e conectará o trecho oeste à via Dutra, margeando por 20 km a serra da Cantareira, um dos principais mananciais da capital.

Do caminho serão retiradas 2.000 famílias, 343 indígenas e o equivalente a 140 campos de futebol de vegetação. Uma centenária paineira em Guarulhos, porém, levou ao desvio do traçado.

A licença manteve a ligação com a marginal Tietê por meio da avenida Inajar de Souza, na zona norte, contrariando pedido da prefeitura.

Por ser uma via expressa, o Rodoanel tem apenas cinco saídas, três para outras rodovias. As demais dão acesso à marginal -uma é a da Inajar de Souza, com 7 km; a outra, pela avenida Raimundo Pereira Magalhães, tem 14 km.

A prefeitura teme que o atalho da Inajar cause adensamento populacional, danos ambientais e impacto negativo no tráfego da marginal. "A ligação é contraditória com a própria finalidade básica que justifica a implantação do trecho norte", diz o secretário do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge.

Para a Dersa, uma das vantagens do Rodoanel continua sendo "o alívio no tráfego da marginal", ao retirar veículos de passagem pela capital.

O acesso pela Inajar, afirma, ampliaria esse benefício ao oferecer aos moradores da populosa zona norte acesso direto a rodovias do entorno.

A obra deve reduzir o volume médio de tráfego da marginal em 13% até 2039, mas elevar o da Inajar em 40%.

Para o presidente da Dersa, Laurence Casagrande Lourenço, o parecer da secretaria não representa a opinião de órgãos de trânsito da capital nem os estudos viários existentes. "Mas ganhamos tempo para debater."

CRÍTICAS

Segundo Jefferson Rocha de Oliveira, presidente do Instituto Eco-Solidário, o principal questionamento das ONGs é a precariedade das análises sobre o adensamento populacional, as intervenções nos cursos d'água e o impacto social da obra.

"O parecer foi entregue aos conselheiros no dia 22, [véspera de] feriado. Tivemos pouco tempo para analisar."


Paineira centenária de 29 m desvia o traçado da obra




Paineira tombada em Guarulhos, que desviou o traçado do trecho norte do Rodoanel

São necessárias pelo menos cinco pessoas para abraçar o caule da paineira mais antiga de Guarulhos, que, tombada por decreto municipal, desviou o traçado do trecho norte do Rodoanel.

Ela tem 29 metros de altura e sua copa tem um diâmetro de 39 metros.

Era sob aquela sombra que a dona de casa Maria José Santos, 74, fazia festas para a família e as visitas, ao longo dos 11 anos em que morou, com o marido e cinco filhos, no terreno particular onde está plantada a árvore.

"É parte da história da família", diz ela, que hoje mora a 50 metros dali, na mesma estrada da Parteira, rua de terra no bairro Bonsucesso.

Maria José chegou a ser repreendida por técnicos da prefeitura quando cravou um prego no caule. Avisaram que era um "patrimônio". "Mas hoje ela parece uma pessoa quando envelhece e o povo abandona", lamenta.

Realmente, o lote ao redor da árvore tem aspecto de abandono, com mato alto e entulho. A prefeitura pretende construir uma praça ali.

Segundo o botânico e ambientalista Ricardo Cardim, não há paineira tão antiga na cidade de São Paulo.

Cardim destaca também as bromélias e cactáceos que usam os galhos da árvore como suporte, formando uma "floresta" sobre ela. "Imagina a biodiversidade que depende só desta árvore! Desviar o traçado foi louvável."


Desapropriações vão começar em julho

Estimativa é retirar cerca de 2.100 imóveis e remover 2.000 famílias; maioria das moradias é irregular, diz Dersa

Movimento contra o traçado do Rodoanel acha que número pode ser maior; removidos não mudarão de cidade

O próximo passo do governo de SP após obter a licença prévia para o trecho norte do Rodoanel é emitir os decretos de utilidade pública de toda a área, primeira etapa do processo de desapropriação.

Segundo o presidente da Dersa, Laurence Casagrande Lourenço, os decretos serão publicados já em julho. Em seguida, começarão as visitas aos afetados pelas desapropriações e os cadastramentos. "O processo começa pela questão social", afirma.

De acordo com estimativa do estudo de impacto ambiental, serão desapropriados cerca de 2.100 imóveis, entre edificações urbanas, terrenos e construções rurais. Em torno de 2.000 famílias serão reassentadas.
"A maioria vive em situação fundiária irregular", diz, referindo-se a favelas e ocupações em áreas de preservação ambiental ou de risco.
Para o Fórum Contra o Traçado do Rodoanel Norte, que reúne entidades da região, o número tende a ser maior.

Um pedido da Prefeitura de São Paulo atendido pelo Consema foi exigir que as famílias sejam assentadas na cidade onde vivem. Para o secretário do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge, isso vai "inibir a transferência desse passivo social para as cidades do entorno".


ANÁLISE
A questão principal é fazer bem o trabalho e fiscalizá-lo

JOSÉ BERNARDES FELEX
ESPECIAL PARA A FOLHA

O transporte define as relações do homem com o espaço e permite organizar atividades que geraram a economia.

O Consema fornecer licença prévia para o trecho norte do Rodoanel só significa que o órgão fiscalizador diz que planos e propostas para as obras previstas podem atender ao que a legislação de proteção ao ambiente exige.

O ambiente é o patrimônio mais importante, e o transporte pode deixar maus rastros para produzir as viagens.

A poluição, o dano à natureza, os acidentes e as desorganizações urbanas acompanham o movimento de bens e pessoas. Ambiente, energia, vias, veículos e tempo são desperdiçados para produzir uma mercadoria: a viagem.

São Paulo cresce e necessidades por transporte aparecem. A relação entre a capital e o ambiente nem sempre é boa. Construir um trecho de Rodoanel pode interferir na serra da Cantareira, mover famílias e bloquear acessos de vizinhança -mas muitos serão beneficiados, com oportunidade de desenvolvimento.

Técnicos medem as obras de transporte em quilômetros construídos. Quem usa o transporte, pelo conforto ou a capacidade de acesso aos bens e serviços. O político, pela propaganda que a obra lhe dá. Mas o ambiente não comemora nem reclama.

Fazer ou não fazer não pode ser uma questão. Fazer correto e proteger o ambiente exige a fiscalização de todos.

JOSÉ BERNARDES FELEX é professor-titular da USP/São Carlos e consultor especialista em transportes