segunda-feira, 21 de março de 2011

Um retrato do Rodoanel

Às vésperas de completar um ano, trecho sul ainda apresenta uma série de falhas, como falta de iluminação e passarela inacabada

ELTON BEZERRA

São 20h de uma quarta-feira e a pista do km 70 do trecho sul do Rodoanel está totalmente iluminada. Só que pelos faróis de carros e caminhões que trafegam na altura do acesso à rodovia dos Imigrantes. Naquele trecho, não há iluminação pública.

Esse é apenas um dos problemas encontrados pela sãopaulo quando percorreu, durante três dias e em horários diferentes, os 61,4 km do trecho sul do Rodoanel, que comemora um ano de existência no próximo dia 1º de abril.

A Secretaria Municipal de Transportes avalia que a nova alça ajudou a melhorar o trânsito na capital. No ano passado, a lentidão média nos horários de pico ficou abaixo dos 100 km pela primeira vez desde 2007, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Isso num ano em que a frota cresceu e beirou os 7 milhões de veículos.

Em toda a cidade, o congestionamento caiu 24% em dezembro de 2010 em relação ao mesmo período do ano anterior, ainda de acordo com a companhia. Na abarrotada avenida dos Bandeirantes, por exemplo, a queda foi de 69%.

Mas o trecho sul tem falhas como uma passarela inacabada, painéis desligados e falta de telefones públicos.

Além disso, não há postos de combustível e o sinal de celular é fraco ou inexistente, o que contribui para a sensação de insegurança na maior parte do trajeto.

O motorista Alceu Estevão da Cruz, 44, conduziu seu caminhão quebrado por mais de 30 km até a base de apoio ao usuário em busca de um telefone.

"Se paro onde quebrei, até minha vida correria risco", queixou-se. Procurada pela sãopaulo, a Dersa, responsável pelo trecho sul até o dia 10 de março (quando assumiu o consórcio SPMar), informou que não há planos para a instalação de telefones públicos nem de postos de combustível no Rodoanel.

Afirmou, ainda, que o sinal de celular é de responsabilidade das operadoras e que nove torres de captação estão em operação e outras cinco serão instaladas.

Quanto à passarela inacabada, a Dersa disse que ela deve ser concluída em até 90 dias. De acordo com a estatal, os quilômetros 70, 73 e 77 sofrem com falta de iluminação porque a AES Eletropaulo ainda não ligou todos os pontos de luz. A companhia de energia, por sua vez, disse que "as datas para a ligação estão sendo agendadas com a Dersa".

Quanto à falta de luz no km 48, a estatal afirma que a iluminação naquele ponto "está funcionando normalmente". Já a Eletropaulo diz que não houve falha no fornecimento de energia no local. Barreira anti-ruído só beneficia área nobre
Obra atende a condomínio, mas não chega a região de baixa renda

Na altura do km 13 do trecho oeste do Rodoanel, dois muros de concreto acompanham o motorista que segue no sentido Régis Bittencourt. A obra vai proteger os ouvidos dos moradores do residencial de luxo Tamboré 1.

A poucos metros dali, o bairro Parque Imperial, de baixa renda, também deveria contar com a proteção, mas sofre com o barulho.

Desde a inauguração do trecho oeste, em 2002, estava prevista a construção de isolamento acústico nas duas áreas. Mesmo assim, a Dersa, responsável pelo projeto na época, não ergueu as barreiras.

Cansada de esperar pela obra, a associação dos moradores da área nobre entrou na Justiça em 2003. Na ação, o Ministério Público pediu a extensão do benefício aos moradores do Parque Imperial.

Dois anos depois, a Dersa foi condenada a construir o muro. Segundo o advogado Sergio Kehdi Fagundes, que representa os moradores de Tamboré, a associação e a CCR RodoAnel (atual operadora do trecho oeste) fecharam um acordo em 2010, e as barreiras começaram a ser erguidas perto das casas de alto padrão.

Mas a obra não encerra a batalha na Justiça. Os moradores de Tamboré querem R$ 5 milhões pelo atraso na construção.

Um passo nesse sentido foi dado em fevereiro, quando a Justiça determinou o bloqueio de R$ 20 milhões de uma conta do DER (Departamento de Estradas e Rodagem do Estado de São Paulo), para assegurar a construção da barreira no Parque Imperial e o pagamento da multa.

O DER e a Dersa entraram com recursos e aguardam julgamento. A CCR estuda soluções para diminuir o ruído no Parque Imperial.

Fonte: Revista da Folha de 20/03/2011

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